quarta-feira, dezembro 13, 2006
ABORTO! O SIM e o NÃO...
O referendo ao aborto é para breve e a discussão está na rua! Não lhe pergunto como vai votar. Mas como encara o rumo do debate?
quinta-feira, dezembro 07, 2006
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Lembrança
O Leonardo Da Vinci estava sempre presente. Muitos iam e vinham. Outros pernoitavam, agarrados a um sinal de trânsito roubado. Às vezes havia sentido proibido para o sexo. Alguém se lembra da Casa da Mona?
segunda-feira, novembro 27, 2006
José Emilio Pacheco
José Emilio Pacheco nasceu na cidade do México em 1939. Tornou-se uma figura proeminete das letras do seu país através da sua numerosa e variada produção literária, tendo participado em muitas publicações.
Ao longo da sua carreira, recebeu alguns dos mais prestigiados prémios literários, nomeadamente o Prémio Internacional Octavio Paz, o Prémio Ibero-americano Pablo Neruda e o PrémioFrederico García Lorca, entre outros.
Ao longo da sua carreira, recebeu alguns dos mais prestigiados prémios literários, nomeadamente o Prémio Internacional Octavio Paz, o Prémio Ibero-americano Pablo Neruda e o PrémioFrederico García Lorca, entre outros.
As Batalhas no Deserto é o livro deste autor que li há dias. Ao lê-lo, encontrei uma história simples de um amor impossível, contada numa linguagem surpreendentemente límpida, fazendo lembrar ouros escritores latino-americanos imortais. Não, não há nesta obra realismo mágico; ela não se enquadra nesse "estilo". O que há é o mérito de se situar uma trama simples numa aparente caracterização histórico-sociológica de um certo México que começava a sofrer uma espécie de colonização americana. Não sei se apreciei mais os aspectos psicológicos que condicionam a história ou esse retrato social. Em todo o caso, nenhum deles faz parte do outro. Vale mesmo a pena ler. Obrigado ao autor e à Oficina das Letras.
Morreu Cesariny
segunda-feira, novembro 20, 2006
Beckett... ou não.
Comemoramos este ano o centenário do nascimento de B. (Dublin 1906 - Paris 1989), autor que, mesmo dispensando apresentações, em todo o caso sempre me suscita alguns pensamentos.
Li, há dias, dois pequenos textos do escritor: "Primeiro Amor" e "Companhia", obras de fases diferentes da sua produção. Sobre a primeiro, nada a dizer, excepto que nele se nota a mestria própria do autor (por agora, características à parte), mas, acerca do segundo, ocorre-me algo inquietante: parece um texto de um principiante, com os seus lugares-comuns e as suas obscuridades (faltas de sentido e de unidade, principalmente). A esta hora, B. deve estar a dar voltas no caixão - espero que não. Enfim, "Companhia" não parece criação de Beckett, pelo menos daquele que inventou À Espera de Godot ou Dias Felizes.
quinta-feira, novembro 16, 2006
quarta-feira, novembro 15, 2006
Lembrança (a partir de uma ideia do "sabugaltarrento")
Sobranceiro à quietude da marina, do porto e do horizonte, o pequeno bar abria-se ao infinito. Sábado. Sol. Sonhos. Expresso. Pat Metheny, cordas da ressaca. Alguém se lembra do Wimpi?
segunda-feira, novembro 13, 2006
segunda-feira, outubro 23, 2006
Não sei se recomende...
Francisco José Viegas escreveu um conto que era inédito até a Visão o ter tornado público, em Agosto. "A poeira que cai sobre a terra" é o título deste textozinho, que era oferecido em forma de livro.
Ao todo, a Visão ofereceu quatro volumes com quatro contos inéditos de FJV, daquele que pensa que é escritor, o Graça Moura, do Jacinto Lucas Pires e de um rapazote que suja sempre uma das páginas do JL, o José Luís Peixoto.
Bom, com esta má língua toda já pareço o das Couves e Alforrecas, lembram-se?, sim, esse grande hortelão metido a crítico literário (que falta tem feito a pena mordaz do Luíz Pacheco para pôr na ordem esses nabos...). Ora bem, li o tal conto de FJV, mas achei-o demasiado confuso, enfeitado, cheio como uma goela atafulhada. Acho que não está bem organizado, na medida em que há hiatos demasiado grandes entre cada um dos seus "andamentos", ou seja, entre as partes da história abrem-se grandes momentos que são preenchidos com pormenores nem sempre necessários à trama. O exagero, essa mania omnipresente dos escritores portugueses, às vezes estraga tudo.
Um dia destes, hei-de falar-vos daquele romence de FJV, Longe de Manaus, mas também de Beckett, ah, sim, e do namorado da Lurdinhas (ai não sabiam que ela tem um namoradinho?) Digamos com o outro: «Eia c'um catano!».
quinta-feira, outubro 19, 2006
GREVE
Alguém acredita que a recente greve de professores possa ajudar a demover a senhora ministra dos seus implacáveis intentos de executar a classe docente?
segunda-feira, outubro 16, 2006
Recomendo...
Recomendo este blog a quem gosta de erotismo, para ler com cuidado:
omeupontog.blogspot.com
omeupontog.blogspot.com
quinta-feira, outubro 12, 2006
Nobel da Literatura 2006 para Orham Pamuk.
Parabéns a Orham Pamuk! Algum de vocês conhece a obra deste autor? Parece que além de escritor é também jornalista e arquitecto. Nasceu na Turquia. Eu tenho alguma curiosidade em descobrir como terá ele tratado alguns dos mais importantes problemas sociais do seu país.
quarta-feira, outubro 11, 2006
Plano Tecnológico - mais uma...
Como é que o prestigiadíssimo M.I.T. se associa ao (des)governo português? Hum... Parece-me anedota... ou talvez não: o Uncle Sam vai tirar daí grandes dividendos, não é? Vai ser assim: «Tomem lá as fórmulas! Agora trabalhem para nós, escravos!».
segunda-feira, outubro 09, 2006
Em que pensas tu, Lurdinhas?
Em que pensas tu, Lurdinhas?
Quem tem cozinha no gabinete?
Quem dorme no gabinete?
Quem lixa os outros enquanto descasca e come uma banana?
Em que pensas tu, Lurdinhas?
Quem tem um filho preso no gabinete?
Quem o obriga a respirar a merda que será publicada para borrar os outros?
Quem há-de ir para o Inferno?
Em que pensas tu, Lurdinhas?
(Autor desconhecido)
Quem tem cozinha no gabinete?
Quem dorme no gabinete?
Quem lixa os outros enquanto descasca e come uma banana?
Em que pensas tu, Lurdinhas?
Quem tem um filho preso no gabinete?
Quem o obriga a respirar a merda que será publicada para borrar os outros?
Quem há-de ir para o Inferno?
Em que pensas tu, Lurdinhas?
(Autor desconhecido)
terça-feira, outubro 03, 2006
JORNAL ESCOLAR
Aceito propostas (decentes) de rubricas / assuntos a publicar num jornal escolar (além do que normalmente acontece na escola, claro). Obrigado.
segunda-feira, setembro 25, 2006
45 mulheres agredidas por dia!
Crimes de violência doméstica aumentam 41 por cento nos centros urbanos. Nos primeiros seis meses de 2006, sete homens foram agredidos diariamente. in http://www.portugaldiario.iol.pt
quarta-feira, setembro 20, 2006
De volta: mais educação.
Depois das férias, que bem podiam ter sido melhores e mais longas, depois do tumulto do concurso de professores, o qual ainda se fará sentir no seio de muitas famílias por tempo indeterminado, resolvi aparecer. E desta vez falo-vos da figurinha que a senhora ministra fez no programa Prós e Contras da RTP anteontem. Pois foi uma triste figura, nada digna de uma ministra que não sabe que se os professores não estiverem satisfeitos também não satisfarão o sistema.
"É como os médicos: nem todos podem chegar a chefes de serviço; ou como no exército: nem todos podem chegar a generais." Retive esta frase, com que a dita senhora justificava a falta de igualdade de oportunidades entre os professores, caso seja aprovado o novo ECD. De facto, trata-se, principalmente, de uma afirmação salazarenta de mediocridade. Vou publicar, porque já estou enjoado.
quinta-feira, julho 20, 2006
No Parlamento...
Hoje, a Sra. Ministra da Educação vai à A.R. dar explicações sobre a trapalhada dos Exames Nacionais. Vai ser bem bonito, não acham? Já estou a vê-la a dizer que correu tudo bem, que foram envolvidos não sei quantos mil professores correctores, não sei quantos mil alunos, enfim, que foi tudo perfeito...
terça-feira, junho 20, 2006
quinta-feira, junho 08, 2006
Um poema de António Ramos Rosa, por muitas razões...
Às vezes a mão
é a lua do desejo
e os signos a frota para o imperceptível
entre pálpebras e virilhas
Dir-se-ia que o corpo
é outro corpo que se frui
com seus poros de silêncio
no seu marfim de concha verde
E o que se escreve aflora o corpo
o branco enxame de lava e mármore
no momento inaugural em que o horizonte
com sua quilha azul penetra as veias e os ossos
António Ramos Rosa, A intacta ferida
é a lua do desejo
e os signos a frota para o imperceptível
entre pálpebras e virilhas
Dir-se-ia que o corpo
é outro corpo que se frui
com seus poros de silêncio
no seu marfim de concha verde
E o que se escreve aflora o corpo
o branco enxame de lava e mármore
no momento inaugural em que o horizonte
com sua quilha azul penetra as veias e os ossos
António Ramos Rosa, A intacta ferida
segunda-feira, maio 29, 2006
Professores - que avaliação?
Depois do que se ouviu nos media, no sábado, no domingo e hoje, acerca deste assunto, muito se poderia comentar; aliás, muito será dito nos próximos tempos. Tinha pensado escrever aqui longamente sobre este assunto, mas penso que umas poucas ideias são suficientes para apresentar o meu pensamento:
1-Se os pais vão decidir se eu progrido ou não na carreira, o que posso fazer para lhes agradar? Bajulá-los? Dar notas altas aos educandos? Hum...
2-Os pais vão assistir às minhas aulas? Tudo bem, já lá tive quase de tudo, mas que utilidade terá isso? Todos os pais têm competência para saber o que é uma aula? E não é preciso estarmos dentro de um processo para o avaliarmos? Então hei-de reconhecer idoneidade para avaliar o meu trabalho a qualquer borra-botas?
3-Não resisto: virá a ser mesmo legitimado que qualquer borra-botas possa decidir a minha vida? Então para que me serviu uma vida de estudo e de trabalho?
4-Já imaginaram um qualquer zé-ninguém (doente) a participar na avaliação dos médicos? Hum... E dos juizes?
5-A participação dos pais (ignorantes ou não, competentes ou não) na avaliação do meu trabalho quantos votos dará?
quinta-feira, maio 25, 2006
ANTÓNIO QUADROS ou GRABATO DIAS ou...
António Quadros é o nome do grande artista a que me referi nos dois posts anteriores. Grabato Dias é o seu heterónimo mais conhecido, com o qual assinou a poesia mais importante da sua obra. Hei-de falar-vos do homem e do artista, do Citroen Diane e da Casa da Seara, mas também de uma rua que não existe e de um mausoléu quase ao abandono. Por agora, ficam as palavras de Maria do Céu Guerra acerca de tão esquecida figura:
ANTÓNIO O DOS QUADROS
Um dia, na minha vida já adulta, confrontei-me com a Poesia como iniciação ao Outro. Pela Poesia também, percebo que reconhecer o Outro é saber onde começamos e onde acabamos. É aprender na dor do Outro a delimitar a nossa dor. E o Outro foi António Quadros. O Outro de todos Solitário/Solidário. O Morgado Beirão. O Africano. O do Renascimento. Pintor a braços com imagens que nunca antes tinham sido de mais ninguém. Poeta múltiplo, mais propriamente multimodo. João Pedro Grabato Dias. Infância com magas/meigas. Mar da Figueira. Lisboa operária da década em que eu nasci. Johannes Grabatus, o clássico. O olho perdido de Camões e Mutimati Barnabé João o soldado da Frelimo, o que queria aproveitar todas as energias naturais. Este é o meu Quadros. O da Rosa Ramalha. O das indignações. O aristocrata que exigia que todos fossem excelentes. O Outro irradiante com quem ainda não parei de aprender. Que ainda não me cansei de interpretar. É que, se é um astro-rei que nos ilumina, não faz mal que a luz que projectamos não seja nossa, porque dela fica sempre um clarão.
Maria do Céu Guerra (in www.pcp.pt)
terça-feira, maio 23, 2006
segunda-feira, maio 15, 2006
Conhecem este homem?
Amor. Te. Ti, tigo. A morte. Amo-te
sem R, sem risco ao meio da morte.
Quero-te assim, querente, quente e forte
ode que a circunstância obriga a mote.
Quatorze versos no papel e dou-te
exangue e medido ramo. O corte
já deixou de sangrar. Pinhos do norte!
Que ricas tábuas de caixão, pra bote!
No mundo em pedaços repartida
ficou-me a mim e ao luis vaz a vida,
galinha gorda rebolante ao espeto.
Me, mi, Mimi, migo... Ó amiga, as migas
ainda são um bom prato, e até com ligas
de duquesa se faz tanto soneto.
Este homem foi poeta e pintor de mão cheia, mas está injustamente esquecido.
quinta-feira, maio 04, 2006
Carlos Nejar
Conhecem este excelente poeta brasileiro?
Pois bem, Carlos Nejar nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Se quiserem mais dados biográficos, vejam: www.nejar.cjb.net e www.releituras.com/carlosnejar_menu.asp . Por agora, só queria partilhar convosco um ou dois poemas extraordinários que podem encontrar na Antologia Poética de Carlos Nejar, editada em Portugal pela Pergaminho:
DEUS NÃO É A PALAVRA DEUS
Deus não é a palavra Deus
e andorinha,
a palavra andorinha.
Há um poço
que não entra
na palavra poço.
O amor, na palavra amor.
E Deus é tudo isso.
A IDADE
Falou e disse um pássaro,
dois sóis, uma pequena estrela.
Falou para que calássemos
e disse amor, penúria, brevidade.
E disse disse disse
a idade da eternidade.
in O Chapéu das Estações, 1978
quinta-feira, abril 27, 2006
Esse Canadá...
Há tempos, toda a gente presenciou aquela gente lusa a ser enxotada do Canadá de qualquer maneira. Eram emigrantes ilegais? Não sei. Sei que nos anos sessenta esse respeitável país da Commonwealth importava levas intermináveis de gente ida de todo o lado, mesmo que se tratasse de pessoas com mais de cinquenta anos. Nessa altura, precisavam lá de todos: de facto, não queriam fazer determinados serviços, como construir edifícios ao frio, limpar latrinas, varrer ruas, entre outros. Muitos dos filhos dos emigrantes que foram para lá nessa altura actualmente fazem o que os pais então faziam. Por isso, agora, os canadianos não precisam de mais ninguém - há que mandar embora os ilegais.
Hoje, lembrei-me novamente desta polémica, quando um noticiário da RTP passou parte de uma série que está a ser exibida no Canadá, na qual, através de um mau gosto sem limites, os portugueses eram ofensivamente ridicularizados. Não sei se a imagem que os nossos conterrâneos têm naquele país é aquela, mas desconfio bem que não, o que me leva a pensar que aquilo é um gratuito ataque muito baixo. Quem já leu Tortilla Flat, de Steinbeck, lembra-se de Big Joe Portugee, personagem sem carácter, sempre embriagado, que o autor descreveu como o típico emigrante português na Califórnia. Estou a tentar decidir quem é mais parvo, se o falecido Steinbeck ou os canadianos...
segunda-feira, abril 24, 2006
quinta-feira, abril 20, 2006
Poluição
Na aldeia onde nasceu o pintor António Quadros (Santiago de Besteiros), terra de Monteiros Lopes, Vasconcelos, Teles de Menezes, Correias Teles e de outros nomes ilustres, há vários focos de contaminação ambiental. Quero referir-me aqui só àquela fábrica que todos nas redondezas conhecem como "fábrica da merda". É uma unidade industrial de transformação de estrume em adubo orgânico, o guano. Há muitos anos que ali se processam os excrementos provindos dos muitos aviários da região, os quais são amontoados ao ar livre, escorrendo pela encosta da Porqueira, afectando várias nascentes, em direcção ao Rio de Aguadalte. Quando digo que afecta as nascentes, não é sem razão: recentemente podia ver-se, na zona das Macieirinhas, uma "borra" imunda quase a chegar às caixas colectoras dessas nascentes. Dentro de pouco tempo, na povoação, algumas pessoas vão ter essa "borra", em vez da água, que ali era da melhor qualidade (são águas do Caramulo). Ainda posso falar do cheiro nauseabundo que se faz sentir ao longo de vários quilómetros quadrados, quando está calor. Nestas terras de Besteiros, berço de tanta gente afamada, parece que não há lei. Se houvesse, a "fábrica da merda" já estaria encerrada.
terça-feira, abril 18, 2006
Coisas da TVI
Infelizmente faleceu uma pessoa, que, por acaso, era jovem. Sempre nos choca a morte que consideramos prematura, como se a morte precisasse de amadurecer. Neste caso, não é o "passamento" de alguém o que está em causa, mas sim o mediatismo que do acontecimento se fez. O facto é este: o referido jovem era um dos actores daquela "coisa" que a TVI transmite denominada Morangos com Açúcar - talvez por isso essa televisão tenha transmitido, hoje à tarde, em directo, as suas cerimónias fúnebres. Uma série de perguntas ocorreu-me logo: se o falecido pudesse ver, o que pensaria?; o que sentirá a família (autorizou?/não autorizou a transmissão?) neste momento íntimo?; que traumas ficarão nos miúdos seguidores da série que assistiram aos rituais?; enfim... Só vi um pouco dessa transmissão, mas lembrei-me de um circo idêntico que a TVI fez por ocasião da tragédia de Entre-os-rios. O que faltará ainda mostrar para aumentar os níveis de audiências?
quarta-feira, abril 12, 2006
segunda-feira, abril 03, 2006
Couves & Alforrecas II
Segundo João Pedro George, Margarida Rebelo Pinto copiou parágrafos inteiros, páginas inteiras de outras obras suas já publicadas. Hum... Por que razão um autor há-de fazer plágio tão descarado da própria obra?
sexta-feira, março 31, 2006
Ondjaki, Couves & Alforrecas
Quem é Margarida Rebelo Pinto?
Que faz Ondjaki neste post?
Para a primeira questão não tenho uma resposta muito clara, porque tenho sempre recusado a leitura da obra da autora, a qual, dizem, é light, portanto, mesmo que a lesse, não correria o perigo de engordar, suponho. O que me impressiona mesmo não é a qualidade literária de certos livros - está visto que a maior parte dos leitores não é muito selectiva -, mas sim as atitudes. Isto vem a propósito da polémica a que assisti esta semana acerca do que escreveu João Pedro George no blog esplanar sobre M.R.P. e que agora ia ser publicado em livro (Couves & Alforrecas. Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto). A dita senhora não quer que se fale mal da sua obra, daí a polémica providência cautelar. Pergunto outra vez: quem é Margarida Rebelo Pinto? Mais uma questão: onde está a liberdade de expressão a que o autor da crítica tem direito? Ela tem medo da quebra nas vendas? Pois com essa atitude salazarenta é que as vendas vão à vida. Sim, porque o leitor, mesmo que seja português, não é tolo.
Quanto à segunda questão, devo dizer o seguinte: a polémica a que acima me refiro perturbou-me a leitura de um dos contistas mais sensíveis e arriscadamente criativos que li nos últimos tempos - Ondjaki. A colectânea E Se Amanhã O Medo, duas vezes premiada, congrega histórias de uma África tão viva e mística quanto vibrante e aventurosa, com as múltiplas variações dos dias e das noites, dos sonhos brancos e dos ritos sonoros. Ondjaki é um escriba de hoje. O resto são couves e alforrecas...
quinta-feira, março 23, 2006
Frustração
Encontro-me no princípio de um estudo sobre sentimentos e cheguei àquele que se designa de frustração. O desafio que vos lanço é que me respondam, ainda que através de uma mentira, ainda que anonimamente: qual é a vossa maior frustração?
segunda-feira, março 20, 2006
Frida Kahlo
Frida Kahlo. Isso mesmo. Fui ver a exposição da pintora ao CCB. Agradou-me muito a oportunidade de observar a obra de uma autora deste nível de originalidade. Ficou-me a coragem de uma mulher que enfrentou o inferno, mas, acima de tudo, retive a transparência de uma dor sem limites, presente em cada risco, em cada pincelada. E só os pasteis de Belém e a companhia foram bálsamo numa tarde fria.
sexta-feira, março 17, 2006
Que Europa?
«A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. (...) Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da "ideia de Europa."»
George Steiner, A Ideia de Europa
Relembro George Steiner principalmente daquelas aulas enfadonhas da Leonor S., que lia com um Inglês altivo e postiço as teorias presentes numa obra capital do autor: In Bluebeard’s Castle – Notes Towards the Redefinition of Culture. Mas, descontando o cariz mortificante daquelas lições, ficou-me na memória o pensamento lúcido e inovador de Steiner. Ainda são de referência essas Notes, e, apesar de terem vindo a público em 1971, fazem sentido no contexto em que actualmente vivemos. A propósito deste autor, gostaria de salientar aqui outra das suas magníficas produções. É um livro mais recente, que contém uma das suas palestras proferidas no Nexus Institute: trata-se de A Ideia de Europa (Gradiva), em que se sintetizam as características essenciais do europeu. Como sempre, Steiner aguça a sua visão humanista do presente, projectando-a, igualmente, no futuro, dando realce ao fulcro dos problemas de uma certa Europa. Vale a pena ler. Nesta edição, só destoa um prefácio vazio, inútil e corriqueiro de José Manuel Durão Barroso, de quem se esperava muito mais (digo eu).
terça-feira, março 07, 2006
Entre ilhas
Talvez um dia alguém decida publicar este meu diário de que vos ofereço hoje um fragmento.
Domingo, 02/ 03/ 2003
Enfim, parece-me que regresso à ilha. Aquela ilha que um dia se apoderou de mim de uma maneira visceral; uma ilha com quem se luta uma batalha sempre perdida, gigantesca, acidentada.
Ainda em S. Miguel, de onde tantas vezes deixei este aeroporto, parece-me que recuo à fase de desorientação. Ir e vir. E sempre me faltando, neste cais e no outro, a âncora definitiva.
Volto ao isolamento das fajãs. De longe, já me aparecem tenebrosas no seu montanhoso feitio. Sempre a luta. Sempre a palavra por dizer, nunca encontrada naquele mar único, dolorido e sufocante.
Domingo, 02/ 03/ 2003
Enfim, parece-me que regresso à ilha. Aquela ilha que um dia se apoderou de mim de uma maneira visceral; uma ilha com quem se luta uma batalha sempre perdida, gigantesca, acidentada.
Ainda em S. Miguel, de onde tantas vezes deixei este aeroporto, parece-me que recuo à fase de desorientação. Ir e vir. E sempre me faltando, neste cais e no outro, a âncora definitiva.
Volto ao isolamento das fajãs. De longe, já me aparecem tenebrosas no seu montanhoso feitio. Sempre a luta. Sempre a palavra por dizer, nunca encontrada naquele mar único, dolorido e sufocante.
segunda-feira, março 06, 2006
Reler Púchkin
Leva-me a partilhar convosco estas linhas a dimensão universal de um escritor russo um pouco esquecido: Aleksandr Púchkin. De novo li as Novelas do defunto Ivan Petróvitch Bélkin (Ambar), um conjunto de cinco contos escritos em 1830, os quais marcaram uma viragem na produção do autor. Neles estão superadas as técnicas do Romantismo, que ainda servem de base à nova tendência realista com que se descrevem personagens, espaços e ícones da vida russa. Ressalta, ao longo das páginas da obra, a alternância súbita entre o humor e o mistério, fios com que se tecem os dramas individuais dos habitantes de uma Rússia fechada, por vezes tão desconhecida. Deixo-vos um reconhecimento, tão cultivado pelos românticos nas bases trágicas de algumas obras, e também um momento horrendus com marcas de humor:
“– Meu Deus! – disse Maria Gravrílovna, agarrando-lhe a mão. – Então era você! E não me reconhece?
Burmin empalideceu… e lançou-se aos pés dela...”
“– Meu Deus! – disse Maria Gravrílovna, agarrando-lhe a mão. – Então era você! E não me reconhece?
Burmin empalideceu… e lançou-se aos pés dela...”
A Nevasca
…………………….
“Nesse instante, um pequeno esqueleto passou por entre a multidão e aproximou-se de Adrian. A sua caveira sorria afavelmente ao cangalheiro. Farrapos de pano verde-claro e vermelho e de tela decrépita pendiam dele, aqui e ali, como de uma vara, e os ossos das pernas dançavam dentro das botas altas, como pilões dentro de almofarizes.”
…………………….
“Nesse instante, um pequeno esqueleto passou por entre a multidão e aproximou-se de Adrian. A sua caveira sorria afavelmente ao cangalheiro. Farrapos de pano verde-claro e vermelho e de tela decrépita pendiam dele, aqui e ali, como de uma vara, e os ossos das pernas dançavam dentro das botas altas, como pilões dentro de almofarizes.”
O Cangalheiro
Pela universalidade do factor humano, sempre presente na obra de Púchkin, e por muito mais, é preciso dizer que ele é um escriba de hoje.
Pela universalidade do factor humano, sempre presente na obra de Púchkin, e por muito mais, é preciso dizer que ele é um escriba de hoje.
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Festa das carnes.
Fevereiro está a chegar ao fim e vem aí o Carnaval, altura para colocar ou remover as máscaras. Mas também é uma ocasião para fazer crítica social, segundo a tradição lusa. Sem dúvida que é a festa da carne; todos sabem que a seguir vem a Quaresma, período de jejum e abstinência e, portanto, há que tirar a barriga de miséria. O problema é que com as brasileirices que vão entrando nos nossos hábitos (aqui abstenho-me de falar das que são do foro linguístico), o Carnaval é já a verdadeira festa das carnes. Está visto que é um dia propício para as exibir, mas o mais ridículo é assistirmos aos abanões daquelas puras banhas portuguesas, que não dançam samba nem coisa nenhuma. Sim, dir-me-ão que essas também têm direito à exibição, mas respondam-me: é ou não de mau gosto uma salgadeira com pernas a tentar sambar? Bom Carnaval para todos!
terça-feira, fevereiro 21, 2006
Escolas fechadas...
Já todos sabemos que muitas escolas do 1º Ciclo vão encerrar, para que se possa melhorar a qualidade do ensino (de acordo com o Governo). Ontem, uma notícia dava conta do encerramento de cinquenta por cento destas escolas do distrito da Guarda. Penso que se trata de um número elevadíssimo. Imaginem só isto: vocês têm um filho em idade de frequentar uma dessas escolas, residem nos confins das serras de Foz Coa, por exemplo (com todo o respeito), e a escola mais próxima fica, digamos, a trinta quilómetros. Acham mesmo que a viagem de sessenta quilómetros por dia vai melhorar as condições de aprendizagem do miúdo? E os professores? Quantos vão para o desemprego em todo o país? Grande poupança se prevê! Enfim, é o défice, não é?
terça-feira, fevereiro 14, 2006
Hoje, um pequeno poema...
Rosa da Gardunha
Para M.C.
Quando o monte respira
Essa frescura
Das manhãs coloridas,
Friorentas,
Quando flores se vestem
Da brancura
De sagradas feridas sangrentas,
Eis que nasce uma rosa,
Cereja menina
Das eternas azenhas
Bonina, contra-mariposa.
E a ribeira na corrente
A luzerna humedecendo
Leva os pomos por amor
Lavando-os da sua dor,
Os espinhos carcomendo.
Mesmo a encosta
Assim florida
As cores todas diluindo
Sabe os ais
Todos da vida
Da rosa
E o seu destino.
Pedro Lopes
Para M.C.
Quando o monte respira
Essa frescura
Das manhãs coloridas,
Friorentas,
Quando flores se vestem
Da brancura
De sagradas feridas sangrentas,
Eis que nasce uma rosa,
Cereja menina
Das eternas azenhas
Bonina, contra-mariposa.
E a ribeira na corrente
A luzerna humedecendo
Leva os pomos por amor
Lavando-os da sua dor,
Os espinhos carcomendo.
Mesmo a encosta
Assim florida
As cores todas diluindo
Sabe os ais
Todos da vida
Da rosa
E o seu destino.
Pedro Lopes
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Agora Acontece
Há programas televisivos que não deviam existir - sobre isto já disse algumas coisas -, mas há outros que nunca deviam acabar. Lembram-se do Acontece? Pois bem, uma ventania de polémica levou-o para longe, lembram-se? Parece que não havia dinheiro para o manter mais tempo. (Pois, há destas decisões políticas inteligentes, neste país, de vez em quando.) Ora bem, para os que não sabem, aqui vai: eu escuto o programa, feito e apresentado pela mesma pessoa que antes, em duas rádios locais cá do Alentejo, uma de Alcácer do Sal e outra de Santiago do Cacém. Só vos digo: continua com a mesma qualidade de sempre, com os convidados e as entrevistas de alto nível a que estávamos habituados. Escutem, se puderem...
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Bill "Gatos"
Durante dois longos dias, Bill Gates andou a "cirandar" pelo nosso país. Manteve aquele ar cheio de bonomia e mansidão e, sorrateiro como um gato que andasse à caça, lá assinou uma série de contratos com o nosso governo, que, ansioso por pôr em marcha o "plano tecnológico", o adulou sem parar. Idealismo e Oportunidade - os dois pilares da cultura americana: é isto que nos ensinam na faculdade. Neste caso, não sei se os termos se aplicam, mas vejamos: idealismo, o Gates não deve ter, mas oportunidade, sem dúvida. O facto é que com esta brincadeira lá vai ele ganhar mais uns milhões largos em vendas; pior: ainda pode levar-nos alguns dos nossos melhores informáticos para o seu reino. Resultado: o idealismo, oco, é nosso, com este teatro todo. Já me esquecia: e a forma como o homem foi "lambido" pela comunicação social? Afinal quem é que os media querem enganar?
terça-feira, janeiro 31, 2006
Serviço público...
De pescoço torto, dormente e estalando, acordei sentado no meu sofá a altíssima hora da noite. No canal 2 da RTP ainda havia imagens de dois excelentes pintores, os quais eram tema de um documentário - tratava-se de Vieira da Silva e Arpad Szenes, enfim, da sua vida e obra. Já noutro dia me tinha "apagado", durante outro bom programa acerca de Mário Cesariny, em que era o próprio a contar a sua história, na mesma estação de televisão. Apresento-vos estes dois exemplos, mas ainda posso acrescentar aquela entrevista feita semanalmente por Francisco José Viegas a personalidades ligadas às artes, passada também a desoras. A minha frustração é enorme, porque a horas tardias não posso assistir a quaisquer programas, muito menos com qualidade. O meu problema não é o sono. Desenganem-se. É saber que a RTP funciona com o dinheiro dos meus impostos; é saber que devia passar programas com qualidade a horas "decentes"; é saber que preenche o "prime time" com porcarias, em vez de praticar o serviço público em favor do aumento da cultura dos portugueses. Já para não falar do meu pescoço, coitado...
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Jazz galego
Não sei se costumam ouvir as rádios nacionais, com as suas playlists detestáveis. Pois, poucas se afastam dessa tendência ditada pelas leis do lucro. Bem, mais ou menos comerciais, há algumas que contrariam, por vezes, essa inclinação. Estou a lembrar-me da Antena 1, por exemplo. Hoje ouvi nesta rádio o programa "Cinco minutos de jazz", como faço sempre às quintas-feiras, perto das 19 horas. Ainda bem que o fiz, porque tive o gosto de ouvir uma excelente música de um grupo galego, de Pontevedra, que não conhecia, chamado Mingus (ou Mingos), que me deliciou. Imaginem, aqui tão perto faz-se música de óptima qualidade, mas não é para admirar muito, porque da Galiza têm vindo muitos talentos.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Literatura alternativa ou nem por isso?
Acabei de ler um interessante livro acerca do sexo da mulher. Não se trata de um romance nem de um daqueles livrinhos de auto-ajuda. O título é CUNNUS e o subtítulo é -Repressão e insubmissões do sexo feminino. Foi escrito por Alberto Hernando. A edição que me veio parar às mãos é a segunda, de 2002, da Antígona. Trata-se de um estudo sobre as muitas formas com que a humanidade viu e tratou o sexo da mulher, desde as tribos mais remotas de África a escritores como Marquês de Sade, Henry Miller ou o nosso Pedro Hispano. Só raramente nos é oferecida a opinião do autor, mas quando ela aparece, reflecte a visão humanista e moderna do seu possuidor. Aconselho esta leitura a todos os que forem maiores de dezoito anos, não vá alguma linguagem chocar cérebros mais tenros que devemos preservar. Depois digam se gostaram! Saudações!
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Pessoa
Adquiri, há tempos, uma antologia de Fernando Pessoa organizada pelo Prof. Eduardo Lourenço. Trata-se de uma publicação promovida pela Visão e pelo JL, que, em boa hora, chegou a todos. Apreciei a selecção feita pelo referido professor, pois dá ao leitor menos conhecedor de Pessoa uma visão de conjunto da sua obra poética. Além disso, só custou 3,99 euros, um preço baixo para a qualidade geral do livro. Agora que Pessoa é "público", o que acontecerá com os direitos editoriais? Como vão as editoras tratar a sua obra? De forma séria? Respeitando sempre os originais? E como poderemos saber que os investigadores que os tratarem são credíveis? Antevejo alguma "confusão" editorial... E você?
Chegando...
Boa noite a todos!
Começa hoje este blog! Trata-se de um sítio onde todos podem trocar informações e opiniões acerca do acto de escrever. Porém, outros temas também poderão ser debatidos, desde que seja de forma educada e democrática. Agradeço a colaboração de todos os que visitarem e comentarem os posts deste blog. Saudações!
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