segunda-feira, maio 29, 2006

Professores - que avaliação?

Depois do que se ouviu nos media, no sábado, no domingo e hoje, acerca deste assunto, muito se poderia comentar; aliás, muito será dito nos próximos tempos. Tinha pensado escrever aqui longamente sobre este assunto, mas penso que umas poucas ideias são suficientes para apresentar o meu pensamento:
1-Se os pais vão decidir se eu progrido ou não na carreira, o que posso fazer para lhes agradar? Bajulá-los? Dar notas altas aos educandos? Hum...
2-Os pais vão assistir às minhas aulas? Tudo bem, já lá tive quase de tudo, mas que utilidade terá isso? Todos os pais têm competência para saber o que é uma aula? E não é preciso estarmos dentro de um processo para o avaliarmos? Então hei-de reconhecer idoneidade para avaliar o meu trabalho a qualquer borra-botas?
3-Não resisto: virá a ser mesmo legitimado que qualquer borra-botas possa decidir a minha vida? Então para que me serviu uma vida de estudo e de trabalho?
4-Já imaginaram um qualquer zé-ninguém (doente) a participar na avaliação dos médicos? Hum... E dos juizes?
5-A participação dos pais (ignorantes ou não, competentes ou não) na avaliação do meu trabalho quantos votos dará?

quinta-feira, maio 25, 2006

ANTÓNIO QUADROS ou GRABATO DIAS ou...

António Quadros é o nome do grande artista a que me referi nos dois posts anteriores. Grabato Dias é o seu heterónimo mais conhecido, com o qual assinou a poesia mais importante da sua obra. Hei-de falar-vos do homem e do artista, do Citroen Diane e da Casa da Seara, mas também de uma rua que não existe e de um mausoléu quase ao abandono. Por agora, ficam as palavras de Maria do Céu Guerra acerca de tão esquecida figura:

ANTÓNIO O DOS QUADROS

Um dia, na minha vida já adulta, confrontei-me com a Poesia como iniciação ao Outro. Pela Poesia também, percebo que reconhecer o Outro é saber onde começamos e onde acabamos. É aprender na dor do Outro a delimitar a nossa dor. E o Outro foi António Quadros. O Outro de todos Solitário/Solidário. O Morgado Beirão. O Africano. O do Renascimento. Pintor a braços com imagens que nunca antes tinham sido de mais ninguém. Poeta múltiplo, mais propriamente multimodo. João Pedro Grabato Dias. Infância com magas/meigas. Mar da Figueira. Lisboa operária da década em que eu nasci. Johannes Grabatus, o clássico. O olho perdido de Camões e Mutimati Barnabé João o soldado da Frelimo, o que queria aproveitar todas as energias naturais. Este é o meu Quadros. O da Rosa Ramalha. O das indignações. O aristocrata que exigia que todos fossem excelentes. O Outro irradiante com quem ainda não parei de aprender. Que ainda não me cansei de interpretar. É que, se é um astro-rei que nos ilumina, não faz mal que a luz que projectamos não seja nossa, porque dela fica sempre um clarão.

Maria do Céu Guerra (in www.pcp.pt)

terça-feira, maio 23, 2006

Conhecem este homem? II


Estas são duas das produções pictóricas do mesmo pintor a que me refiro no post anterior.

segunda-feira, maio 15, 2006

Conhecem este homem?


Amor. Te. Ti, tigo. A morte. Amo-te
sem R, sem risco ao meio da morte.
Quero-te assim, querente, quente e forte
ode que a circunstância obriga a mote.


Quatorze versos no papel e dou-te
exangue e medido ramo. O corte
já deixou de sangrar. Pinhos do norte!
Que ricas tábuas de caixão, pra bote!


No mundo em pedaços repartida
ficou-me a mim e ao luis vaz a vida,
galinha gorda rebolante ao espeto.


Me, mi, Mimi, migo... Ó amiga, as migas
ainda são um bom prato, e até com ligas
de duquesa se faz tanto soneto.


Este homem foi poeta e pintor de mão cheia, mas está injustamente esquecido.

quinta-feira, maio 04, 2006

Carlos Nejar

Conhecem este excelente poeta brasileiro?
Pois bem, Carlos Nejar nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Se quiserem mais dados biográficos, vejam: www.nejar.cjb.net e www.releituras.com/carlosnejar_menu.asp . Por agora, só queria partilhar convosco um ou dois poemas extraordinários que podem encontrar na Antologia Poética de Carlos Nejar, editada em Portugal pela Pergaminho:

DEUS NÃO É A PALAVRA DEUS

Deus não é a palavra Deus
e andorinha,
a palavra andorinha.

Há um poço
que não entra
na palavra poço.

O amor, na palavra amor.

E Deus é tudo isso.


A IDADE

Falou e disse um pássaro,
dois sóis, uma pequena estrela.
Falou para que calássemos
e disse amor, penúria, brevidade.
E disse disse disse
a idade da eternidade.


in O Chapéu das Estações
, 1978