António Quadros é o nome do grande artista a que me referi nos dois posts anteriores. Grabato Dias é o seu heterónimo mais conhecido, com o qual assinou a poesia mais importante da sua obra. Hei-de falar-vos do homem e do artista, do Citroen Diane e da Casa da Seara, mas também de uma rua que não existe e de um mausoléu quase ao abandono. Por agora, ficam as palavras de Maria do Céu Guerra acerca de tão esquecida figura:
ANTÓNIO O DOS QUADROS
Um dia, na minha vida já adulta, confrontei-me com a Poesia como iniciação ao Outro. Pela Poesia também, percebo que reconhecer o Outro é saber onde começamos e onde acabamos. É aprender na dor do Outro a delimitar a nossa dor. E o Outro foi António Quadros. O Outro de todos Solitário/Solidário. O Morgado Beirão. O Africano. O do Renascimento. Pintor a braços com imagens que nunca antes tinham sido de mais ninguém. Poeta múltiplo, mais propriamente multimodo. João Pedro Grabato Dias. Infância com magas/meigas. Mar da Figueira. Lisboa operária da década em que eu nasci. Johannes Grabatus, o clássico. O olho perdido de Camões e Mutimati Barnabé João o soldado da Frelimo, o que queria aproveitar todas as energias naturais. Este é o meu Quadros. O da Rosa Ramalha. O das indignações. O aristocrata que exigia que todos fossem excelentes. O Outro irradiante com quem ainda não parei de aprender. Que ainda não me cansei de interpretar. É que, se é um astro-rei que nos ilumina, não faz mal que a luz que projectamos não seja nossa, porque dela fica sempre um clarão.
Maria do Céu Guerra (in www.pcp.pt)
1 comentário:
Cara Maria do Ceu Guerra, que sempre conheci de nome e do seu trabalho (bem) feito nas tabuas de um palco ou no fio de uma equilibrista de voz construindo um personagem, mas nunca pessoalmente.
Disse-me o Antonio Quadros, nos seus ultinos anos na "casa amarela", em Besteiros perto de Tondela, que tinha escrito um monologo sobre a Rosa, a oleira que ele tanto apreciava e apoiara a divulgar, e que esse monologo lho entregara para que o lesse e eventualmente o representasse.
Se tal foi o caso, seria importante divulgar essa obra. O António merece-o, sabe-mo-lo nos e muitos que tiveram o previlegio de o privar com ele.
Henrique Guedes-Pinto
h.gp@hotmail.com
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